segunda-feira, 15 de junho de 2009

Série homenagem aos meus poetas: 4


"...Porque o teu amor me mostrou o verdadeiro sentido da vida,
teu sangue me purificou de todo pecado, me despiste de toda dor
e me deste novas vestes de louvor..."
B.N


"Canção de Adão"


"Ele me vestiu

Eu também não saberia fazê-lo sozinho

Afinal...

As desculpas eram insignificantes

As justificativas, triviais

Minhas boas ações eram trapos de imundície ante a alvidez da verdade

Não.

Nenhum esconderijo era bom o suficiente

Eu errara e sabia disso...

Não.

Nenhum elogio grandiloqüente o bastante

Porque minha consciência gritava,

E gritava alto...

Eu sabia.

Ele também.

Então

Ele se despiu e pôs sua santidade sobre mim...

Ficou largo.

Ele era tão maior que eu...

Com cravos sujos de sangue

Ele acertou as medidas.

Só depois pude ver aquela etiqueta: AMOR".


Felipe Amorim

terça-feira, 9 de junho de 2009

Série homenagem aos meus Poetas: 3



"...Hoje o teu sorriso foi um presente que jamais esquecerei,
Pois foi um sincero sorriso de felicidade por me encontrar...

B.N

"A duas flores"


"Duas flores unidas
Duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol
Vivendo no mesmo galho
Da mesma gota de orvalho
Do mesmo raio de sol.

Unidas bem como as penas
De duas asas pequenas
De um passarinho do céu
Como um casal de rolinhas
Como um bando de andorinhas
Na tarde do frouxo véu.

Unidas bem como os prantos
Quem em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar
Como o suspiro e o desgosto
Como as covinhas do rosto
Como as estrelas do mar.

Unidas. Ah! Quem me dera
Na eterna primavera
Viver qual vive esta flor
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida
Na verde rama do amor".


Castro Alves

Série Homenagem aos meus Poetas :2


"...Pior que a incerteza de ser amado,
é a certeza do amor que é teu, e que nunca íras possuir..."

B.N



"Ausência"


"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos
que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa

de me veres eternamente exausto
No entanto tua presença

é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gosto existe o teu gosto

e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter,
porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado.


Eu deixarei...
Tu irás e encostarás tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos

e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite

e ouvi tua fala amorosa
Porque os meus dedos

enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E trouxe até mim a misteriosa essência

do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E em todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente
A tua voz ausente
A tua voz serenizada".


Vinícius de Moraes

Série Homenagem aos meus poetas : 1


"...Hoje existe uma lembrança viva que me consome as entranhas...
Hoje sou a sobra do que minha memória não deixa esquecer..."

B.N

"Soneto a quatro mãos"


"Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado.
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
para viver da vida o amor sem dano".

Vinícius de Moraes e Paulo M. Campos