terça-feira, 10 de novembro de 2009

Metamorfose




I

Vivo numa redoma de vidro
onde me escondo e me omito
de tudo que me parece muito real.

Sou fraca, sou forte,
sou tudo que quiser
desde que não precise sair.

Se não quero, quem vai me obrigar?
Se quero, quem vai me impedir?

Tentando não me expor ao mundo
me exponho a mim mesma,
e descubro que sou meu pior acusador,
e cobro de mim o que ninguém vê.

Minha consciência é meu mundo,
ninguém manda mais em mim
que a minha consciência.

II

Quebro a redoma de vidro
e o ar que me envolve
me apavora tanto quanto
a realidade lá fora.

Não posso mais me esconder.
Não quero mais me omitir.
Quero a realidade de todas as coisas,
de todos os sentimentos.

Sou livre, posso ser eu.
Sou leve, posso flutuar.
Sou humana, posso sonhar.
Sou mulher, preciso amar.

Zilda Amorim (2000)

Saudade







Hoje acordei com saudade.
Saudade do que não vivi;
Mas poderia.
Saudade do que senti;
Mas não devia.
Saudade dos sonhos;
Que não realizei.
Saudade dos desejos;
Que não saciei.
Saudade dos beijos;
Que quis te dar, mas não dei.
Saudade do teu cheiro, que nunca senti.
Saudade do teu carinho, que nunca recebi.
Saudade de "você".
Que está sempre presente,
Mas nunca está aqui.



Zilda Amorim (2002)









O que cala o poeta


"O meu lugar é onde você quer que ele seja,
Não quero o que a cabeça pensa eu quero o que a alma deseja...
Tenho pressa de viver..."

Belchior

Hoje acordei triste.
Todo brilho fugiu do meu olhar
e procurou um canto para se esconder.


Hoje, chorei por nós dois.

Uma dor calada dentro do meu peito
insistiu em gritar, aos meus ouvidos.

Hoje meu coração acordou
como uma folha de papel amassado.


Não uma folha em branco,
mas, uma escrita demais.
Como quando escrevemos muito,
e descobrimos que não dá para apagar,
então, num gesto de desespero amassamos,

para ver se some tudo que está escrito.

Hoje minha saudade tinha cara de noite mal dormida.
Todo o dia se esforçava para se fazer belo,
Mas a belaza não estava nos meus olhos.


Minha saudade doía diferente,
De uma dor que deixa vazio o coração,
Uma dor que machuca a alma,
E que cala o poeta.


B.N